Ariano Intenso - Cinéfilo - Fã de Star Wars, Iron Maiden, fotografia, arte e cerveja.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Entrevista: CIO da Casas Bahia

Rede inaugurou loja virtual mais tarde que concorrentes, mas Frederico Wanderley quer na web o mesmo sucesso da rede física


Ele é um entusiasta e grande defensor do mainframe. É absolutamente contra a terceirização em TI. Prima pelas tecnologias de ponta, que busca em feiras ao redor do mundo e testa na maior rede varejista do Brasil. O condutor da TI da Casas Bahia não sabia nada de tecnologia da informação quando, em dezembro de 1993, depois de quase 20 anos trabalhando na companhia, recebeu do fundador Samuel Klein a missão de dirigir o departamento. Frederico Wanderley encarou de frente. Na época, em vez de seguir o caminho da maioria das empresas rumo à plataforma baixa, preferiu apostar na evolução do mainframe. E, na contramão, esteve também quando, em 2001, adotou o sistema operacional Linux. Mais recentemente, inaugurou um novo centro de tecnologia em São Caetano do Sul, fruto de um investimento de R$ 20 milhões. Sua última empreitada, em 2 de fevereiro, foi o lançamento (ainda que tardio) da loja virtual, cujos detalhes o executivo contou à InformationWeek Brasil nesta entrevista que vai muito além do e-commerce.

InformationWeek Brasil - A Casas Bahia preparou-se durante anos para o lançamento do e-commerce. Por que a demora para entrar no comércio eletrônico?

Frederico Wanderley - Antes, a Casas Bahia não tinha interesse em entrar no e-commerce. Não porque não seria uma boa ideia, mas não era filosofia do grupo. Mas, independentemente disto, a TI estava preparando a loja. Nós queríamos fazer um projeto que fosse totalmente diferente do que existe, porque a Casas Bahia usa mainframe e precisávamos ter a mesma plataforma, e o mercado de e-commerce trabalha com plataforma baixa.

IWB - O que muda?

Wanderley - Muda muito, porque as lojas virtuais que existem no mercado estão segregadas, ou seja, estão hospedadas em um site preferencial e enxergam o depósito delas. Na loja virtual da Casas Bahia não: o processo é diferente, a enxergamos como mais uma loja dentro da nossa cadeia. A loja virtual está diretamente acessando o estoque, que não é só dela, mas da empresa como um todo. E usa também o mesmo sistema de logística.

IWB - O CRM e BI também estão acoplados?

Wanderley - Temos em todas as lojas a mesma estrutura (que inclui BI e CRM), e isto não muda no caso da virtual.

IWB - Os quatro anos que vocês demoraram fazendo o e-commerce não foi apenas a parte de TI, mas também a de planejamento negócios. O que foi mais difícil?

Wanderley - Foi justamente deixar a plataforma e o sistema prontos para entrar a parte comercial, porque esta é a mola mestra do sistema. Hoje, somos referência mundial da IBM em e-commerce, porque não existe nenhum cliente no mundo fazendo na loja virtual o que fazemos em mainframe, com banco de dados acoplado e como se fosse uma venda na loja física. E tem o diferencial de uma velocidade muito grande.

IWB - Isto se deve ao mainframe?

Wanderley - Mainframe é muito rápido, então, fornece uma resposta muito rápida ao processo e nós colocamos dois links de 100 megas somente para loja virtual. Fizemos testes de estresse e chegamos a mais de 10 mil clientes no mesmo segundo sem problemas.

IWB - Quanto a loja virtual vai representar para a casas bahia?

Wanderley - Fizemos estudos para que no ano que vem chegássemos a 2% das vendas da empresa pela loja virtual. Você pode até dizer que 2% não é nada, mas temos faturamento de R$ 14 bilhões, então, qualquer 1% é muito.

IWB - Como estão os acessos?

Wanderley - Monitoramos constantemente o acesso e percebemos que o grande volume é no horário comercial, com número maior de vendas no período da tarde. Nos 17 primeiros dias de existência, tivemos uma média diária de cerca de 70 mil a 80 mil acessos. E não fizemos propaganda ainda.

IWB - Vocês estabeleceram uma meta para o cartão Casas Bahia de 4 milhões de clientes para entrar no e-commerce?

Wanderley - Na verdade, não foi estabelecido este objetivo para entrar no e-commerce. A empresa se deu uma meta do cartão de bandeira Visa e acreditava que os 4 milhões era um patamar ideal para entrar com loja virtual.

IWB - Qual é a relação?

Wanderley - A relação é que nosso cliente é das classes C e D - e nossos cartões estão nesta faixa. Assim, você cria uma base, porque no comércio eletrônico o cartão é a base para a compra. Houve um aumento na aquisição de computadores, mas isto não foi o determinante, mesmo porque o pessoal usa o computador do trabalho.

IWB - Como está composto o investimento de R$ 3,7 milhões na loja virtual?

Wanderley - Não posso abrir esta composição, mas diria que uns R$ 3 milhões foi para tecnologia e o resto para publicidade e outros processos.

IWB - Mudando de assunto, a Casas Bahia fez alguns testes com RFID. Qual é a estratégia para a etiqueta por radiofrequência?

Wanderley - Estamos pesquisando há dois anos, fazendo o levantamento dos dados, investindo, ganhando conhecimento, buscando saber em feiras e eventos internacionais como está a adoção. Lá fora estão usando a RFID em quase sua totalidade nos pallets, mas isto não nos atenderia. Queremos fazer a administração do nosso depósito e do centro de distribuição. Então, tem de ser por item. Fizemos um projeto piloto durante a superloja no Anhembi (SP). Cada produto saía do centro de distribuição em Jundiaí (SP) com as etiquetas inteligentes e no Anhembi colocamos portais para a leitura. Começamos o projeto em 21 de novembro. As informações iam direto para nossos sistemas, para, por exemplo, fazer o controle de estoque. Conseguimos ler 95,3% das etiquetas.

IWB - O custo ainda é uma barreira para uma adoção maior?

Wanderley - O caro é relativo. A etiqueta quando começou era cara, saía em torno de US$ 2 cada, mas hoje não. Para o projeto do Anhembi, mandei buscar nos Estados Unidos e ela custou centavos de dólares. Então, US$ 0,20 é caro para controlar o estoque, desvio, informações em tempo real? Você deve levar em consideração todos os ganhos. E o pioneiro paga por isto mesmo, não tem jeito. Quanto custa você ter todo o complexo de gente para fazer o inventário demorado?

IWB - E agora qual é o próximo passo?

Wanderley - Estamos fazendo a análise da viabilidade em função do que vimos no Anhembi e vamos fazer um projeto para que todos os depósitos e lojas passem a ter RFID.

IWB - Que balanço você e a diretoria fizeram?

Wanderley - Muito positivo. A receptividade foi boa, tanto entre os funcionários como a diretoria, que gostou. Você passa a ter um controle da loja maior, faz inventário rapidamente, tem várias mudanças que são perceptíveis para qualquer funcionário. Imagina a diferença no descarregamento de caminhão: no tradicional leva duas horas e com RFID, meia hora.

IWB - No futuro, você imagina que a etiqueta virá no produto?

Wanderley - Já estamos conversando com alguns fornecedores para embarcar a etiqueta. O que é fabricação nossa - como os móveis - estamos trabalhando para sair com a etiqueta. A tendência é esta e o processo em si, irreversível. Pode levar um pouco mais de tempo agora por causa da crise mundial, que vai fazer muita gente suspender investimentos, o que eu acho uma grande maluquice, porque você tem de avaliar a tecnologia como aumento de produtividade. Mas cada empresa age como melhor achar, mas, se todo mundo começar a adotar o padrão de RIFD, será igual ao processo de código de barras.

IWB - Qual é a meta?

Wanderley - Espero em breve, dentro de um ano ou 1,5 ano, começar a ter RFID em uma boa parte de lojas e depósitos. Vamos melhorar a parte de abastecimento e definir onde colocar a etiqueta. Parece tão simples, mas tem de ter padrões e estabelecer os processos, que representam cerca de 60% do projeto de RFID. Nosso projeto engloba até a entrega na casa do cliente, com antenas no caminhão e com GPRS para dizer a posição e se está entregando certo.

IWB - Há quantos anos você está na Casas Bahia?

Wanderley - Não gosto muito de falar de minha trajetória... Dia 5 de março, completei 34 anos de empresa. Comecei na área financeira, numa quarta-feira de cinzas de 1975, imagina um pernambucano que sou, com o carnaval na veia (agora não está mais) chegando às sete horas da manhã (risos). Fiquei na área até 1992, quando a empresa extinguiu a financeira. De 1992 a 1994, assessorei seu Samuel [Klein, fundador da Casas Bahia] e, em dezembro de 1993, houve uma modificação na área de tecnologia, cujo antigo gerente havia saído, e me chamaram para assumir.

IWB - O que você conhecia de TI?

Wanderley - Nada. Eu era um grande usuário de informática. Peguei o pepino na mão na época do downsizing e nós tínhamos mainframe, que era o 3090, da IBM, um equipamento resfriado a água, parecia um computador de jogos de guerra, enorme, pesado... Entrei para tomar conta e, ao invés de fazer o downsizing, fui para o 9121, que era cem vezes mais forte que o outro. Desde então, só fomos aumentando a tecnologia no mundo de mainframe até que, hoje, temos o System z10. Temos muitas transações (saímos de 425 mil clientes, em 1994, para 16 milhões, em 2004) e precisamos de um equipamento com alto desempenho. Hoje, temos dois sites (não é site backup) trabalhando em paralelo. Tudo que existe em um tem no outro, eles trabalham juntos, com carga balanceada, concomitantemente. É altamente estabilizado.

IWB - E isto tem a ver com a tecnologia WAAS (wide area application services)?

Wanderley - O WAAS é um sistema que evita que você trafegue na rede a mesma informação várias vezes. Com isto, ganhamos velocidade. No primeiro teste de viabilidade que fizemos no atendimento do SAC, que é muito interativo e busca muitas informações, verificamos que o tempo de uma aplicação que demorava 20 segundos caiu para um segundo. E isto vale para qualquer coisa que transite pela nossa rede.

IWB - Por que a Casas Bahia é contra a terceirização?

Wanderley - A filosofia da Casas Bahia parte do princípio que somos nós que conhecemos o negócio. Os funcionários da tecnologia, por exemplo, são antigos, estão em média há 14 anos aqui. O que acontece na terceirização: você chama o consultor, mas ele não conhece o seu negócio, não entende e demora. E a Casas Bahia é muito rápida. Se tiver mudanças, tenho de fazer rapidamente. Todos os dias eu almoço com a presidência [para estar alinhado].

IWB - Como a presidência enxerga a TI?

Wanderley - Ela entende que a TI é a propulsora para atender a todo este público, por isso, que dão carta branca para investir.

IWB - De quanto é seu orçamento?

Wanderley - Não tenho definido, porque em TI você não pode ter um orçamento fixo, a tecnologia é muito rápida. Se você trabalha em cima de orçamento fixo, não parte para a tecnologia de ponta. Lógico que não vou usar qualquer tecnologia, já sei o que é bom para a empresa. Tem de ver se aumentou produtividade, melhorou os custos e a satisfação do cliente.

IWB - Você tem alguma estatística de quanto representa cair o sistema?

Wanderley - Se o sistema ficar parado por uma hora numa data como o dia das mães, que vende em torno de R$ 120 milhões, a Casas Bahia perde uns R$ 10 milhões na hora. Por isso, temos um sistema redundante, totalmente em tempo real e que trabalha independentemente, além de links de contingência com várias operadoras.

IWB - Os diretores controlam as vendas em tempo real. Como são estes painéis?

Wanderley - A Casas Bahia é uma empresa 100% tempo real. Qualquer transação que acontece temos a informação na hora. Então, os diretores vêem suas informações real time. Temos uma tela de vendas por hora, atualizada a cada segundo e que mostra as tendências do dia, se vai atingir os objetivos, quanto será o faturamento. Isto ajuda a acelerar a cobrança nos diretores e gerentes de lojas. É um sistema desenvolvido por nós e atuamos em tempo real desde 1997. Fomos fazendo com as ferramentas que existiam na época e depois melhorando.

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