Ariano Intenso - Cinéfilo - Fã de Star Wars, Iron Maiden, fotografia, arte e cerveja.

sábado, 24 de outubro de 2009

Dies Saturni


Amanheço neste sábado, o sol fragmentado entre as frestas me faz miose, quero lhe ver, mas a letargia do sono é tão forte em mim agora.
Sinto que há um dia ocioso por vir após sessenta horas de trabalho exaustivo, semana turbulenta, veloz, uma hora á mais par o sol, manhã escura, noite com arrebol.
Me deleito com a tecnologia, tudo, todos e até as músicas de outrora são totalmente virtuais, mas estão tão próximas que por um momento sinto na tangibilidade as respectivas texturas.
Pela varanda o sol se põe, a maresia inexorável deprecia chaves e ferrolhos,o tempo não volta, jamais voltará e o relógio que o fiel aliado do tempo só se preocupa em correr, correr e correr. Para que?
A vida é curta pra ver... Eu pensei que quando eu morrer vou acordar para o tempo e para o tempo parar.
Como diz um poeta camelo.

Clayton Vasconcelos
Sábado, 24 de outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

Quando o Twitter acaba em pizza

A vida de Poline Lottin, de 19 anos, é bem comum à rotina dos jovens da sua idade: muito corrida. Durante o dia, divide o tempo entre o trabalho em uma empresa de tecnologia e a faculdade de Sistemas de Informação. Quase que 24 horas na frente do computador, uma das poucas coisas que ela não fazia na web era pedir lanches.

Não fazia. Porque há pelo menos cinco meses o famoso disk pizza virou Twitter pizza. A descoberta veio por acaso. Poline fazia um trabalho para a faculdade junto com colegas – cada um em sua máquina – quando a fome bateu e eles resolveram pedir alguma coisa para comer. Uma rápida busca pela internet levou o grupo ao endereço virtual da Uma Pizza, pioneira nesse serviço aqui no Estado.

– Hoje só peço lá. Como trabalho e estudo em cima do computador, é uma comodidade para mim – diz ela, que faz uso da facilidade pelo menos uma vez por semana.

Poline define bem o perfil de clientes de Alexandre Salles, um dos sócios da empresa. Ele, que montou o negócio há menos de seis meses, vê o número de clientes se multiplicar. São pelo menos 150 novas pessoas a cada mês e dessas, 70% usam a internet para concluir os pedidos.

Tamanho sucesso já refletiu em novidades positivas na rede. De vez em quando o empresário faz promoções. Poline já foi uma das ganhadoras. Ao acertar o nome do cd da cantora Fernanda Takai, a estudante ganhou um ingresso para o show.

– Estava saindo do banho, com o Twitter ligado, e vi que eles estavam sorteando a entrada. Respondi o quiz e fui contemplada.

Twitter aqui do Japão...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vale a pena se matar pelo trabalho?

Estamos no século 21, mas muita gente ainda acredita que trabalho é castigo divino, como prega o livro Gêneses na história sobre Adão e Eva expulsos do paraíso. Isso vale para empregados e para empregadores. A grande maioria dos dois lados vive pela lógica de que o sucesso profissional (para uns) e o salário garantido no final do mês (para a maioria) estariam acima de tudo no mundo corporativo. Acima dos momentos de descontração com os amigos, da intimidade com a família e das horas de bem-estar individual. Em casos mais radicais, acima da qualidade de vida, do respeito mútuo, do amor próprio e das crenças particulares mais sagradas. Suportar, pelo lado de quem obedece, e impor suplício, pelo lado de quem manda, seria algo natural – e até esperado – em muitas relações profissionais tortas que vemos no dia a dia das maiores e mais importantes empresas.

A France Telecom parece estar tentando elevar o que há de pior no mundo do trabalho ao estado da arte, como diriam os consultores. Nos últimos 18 meses, a France Telecom ganha notoriedade por causa de uma estatística assombrosa – o crescente número de suicídios entre seus funcionários. Nesse meio tempo, 24 se mataram. Isso significa que todo mês ao menos um funcionário dá cabo da própria vida.

A France Telecom não é uma qualquer. Foi uma estatal poderosa, privatizada no final dos anos 90. O Estado detém 26% do capital, o que ainda faz dela um patrimônio francês. Seu lucro, no ano passado, superou os quatro bilhões de euros. Mais de 100 mil pessoas trabalham na empresa. Por tudo isso, o que está ocorrendo lá – e da forma como está ocorrendo – ultrapassa a fronteira do surreal.

Setembro deve ter sido especialmente tenso. Foram registrados dois suicídios consecutivos. Na segunda-feira desta semana, um funcionário de 51 anos, pai de dois filhos, se jogou de um viaduto, no Oeste da França. Como vários outros colegas, deixou um bilhete responsabilizando a empresa pelo ato trágico. Conta-se que ele havia sido transferido há cerca de três meses para um departamento com fama de ser um dos mais frios da companhia.

Há casos sem recados derradeiros, mas que estão ligados à rotina de afazeres na France Telecom. Na sexta da semana passada, uma funcionária de 32 anos pulou do quarto andar do prédio da empresa, em Paris, logo após uma reunião. Não teve tempo de escrever nada e não foi divulgado o teor do encontro que tanto a abalou.

Há também os que tentaram se matar e não conseguiram. Foram registrados 13 casos. Neste mês, o mais comentado foi o do técnico de 48 anos que literalmente improvisou um haraquiri a francesa. Na quarta da semana passada, enfiou uma faca na barriga durante a reunião em que foi comunicada sua transferência para um cargo abaixo do que ocupava.

Desequelíbrio emocional de uns poucos? Surto coletivo? Quem explica? Os japoneses, quem sabe? Os suecos podem dar pistas?

Os sindicatos franceses garantem que os suicídios não estão relacionados a problemas pessoais. Indicariam o alto nível de estresse imposto por um processo de reestruturação que tenta elevar os ganhos para atender a demanda dos investidores privados. Demanda essa que teria se intensificado com a crise financeira. Entre as mudanças implantadas estão: autonomia irrestrita da companhia para transferir funcionários de funções e de cidades – sem consulta ao interessado final – e um sistema de metas individuais apertadas, que cobra a competição a qualquer preço entre funcionários de mesmos departamentos e até equipes.

O mais impressionante de tudo é a reação dos executivos do primeiro escalão. Quando os suicídios ganharam projeção, Didier Lombard, o presidente, anunciou a intenção de contratar um número maior de médicos e de funcionários para o RH e de ampliar o convênio com psicólogos. Por sua vez, Olivier Barberot, diretor de recursos humanos, foi a público ponderar que os números de mortes eram naturais. Segundo ele, houve 28 suicídios na empresa em 2000, e 29 em 2002. As taxas seriam aceitáveis para o tamanho do quadro funcional da companhia. Além do mais, acrescentou, Peugeot e Renault teriam registrado taxas similares entre 2006 e 2007 – o que reforçaria a tese de que 20 e poucos se matarem por causa do trabalho num ano é algo perfeitamente razoável.

Sem comentários.
Só tenho três perguntas:

1) Será que está tão difícil assim encontrar emprego na França?

2) O presidente da France Telecom deveria contratar mais pessoas para o RH ou demitir o departamento inteiro, a começar pelo diretor, por sua absoluta incapacidade de gerenciar pessoas? E, claro, apresentar sua própria carta de demissão em seguida?

3) Em que momento as pessoas ultrapassam a fronteira da sanidade e passam a acreditar que podem cometer barbaridades em nome do trabalho, inclusive anular a própria vida ou a de pessoas que estão sob o seu comando – quer seja no sentido literal ou no metafórico?