Ariano Intenso - Cinéfilo - Fã de Star Wars, Iron Maiden, fotografia, arte e cerveja.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cada época tem o cerol que merece


Por André Barcinski

Na praia, encontramos um amigo. Ele nos contou que uma criança havia cortado a mão na linha de pipa. “Foi cerol?” perguntei. “Que nada, foi a linha chilena!”, respondeu.

Juro que nunca tinha ouvido falar na tal linha chilena.

Chegando em casa, procurei na web. Descobri que a linha chilena é a grande coqueluche dos amantes da pipa: uma linha extremamente cortante e perigosa, tratada com uma mistura de quartzo moído e óxido de alumínio. Uma verdadeira espada ninja. E pior: vendida livremente na Internet.

No mesmo dia, a notícia: em Campo Limpo, Sâo Paulo, um policial à paisana que andava de moto morreu ao ter o pescoço atingido por uma linha dessas. O coitado quase foi decapitado.

O que houve com o velho cerol? Não é letal o suficiente? Já não basta a estupidez de empinar pipa com cerol, agora a molecada compra linha já pronta, e com máximo impacto cortante? Qual o próximo passo? Pipas eletrificadas? Papagaios com controle remoto?

Alguns dias antes, eu havia tomado outro choque de realidade: ao entrar numa loja de pesca para comprar anzóis, vi um sujeito adquirindo, todo pimpão, uma sonda para peixes.

“É moleza”, disse o vendedor. “Você vê até o tamanho do bicho!”

Sou eu, ou as pessoas estão ficando loucas?

Qual é a graça de pescar com uma sonda? Já que o negócio é facilitar a vida, por que o sujeito não compra logo o peixe numa peixaria?

Tudo bem que a vida moderna e a tecnologia estão aí para nos trazer conveniência, mas será que o pessoal não está exagerando?

A impressão é que ninguém quer dar sopa para o azar. O sujeito tem um sábado por mês para pescar, então não vai ficar esperando pelo peixe. Vai atrás dele armado até os dentes. A mesma lógica se aplica à linha chilena.


Sem querer soar nostálgico, mas lembro de uma época em que a gente ia soltar pipa ou pescar sem saber como seria o resultado. A graça era essa